25 de dezembro de 2012 às 6:00
Por Natalia Cesana (da Redação)
Um visitante do Museu Ernest Hemingway, localizado em Key West, na Flórida, EUA, pode não só conhecer a máquina de escrever do escritor, a cama em ferro moldado e o mictório trazido do bar Sloppy Joe, mas também os gatos que vivem ali. O local está cheio deles, os chamados gatos de Hemingway. O curioso é que alguns deles possuem seis dedos e por gerações se esticaram no sofá e se enrolaram no travesseiro do escritor. As informações são do NY Times.
Guias turísticos perpetuam a história de que estes gatos descendem de Snowball, o gato branco dos Hemingways. Uma lenda de navegantes diz que gatos com polidactilia, isto é, com dedos a mais, trazem sorte.
Mas parece que o encanto destes 45 gatos não tem efeito contra um inimigo implacável: os agentes federais.
Por nove anos o museu manteve os gatos fora do alcance do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, mas neste último mês isso já não foi mais possível. A justiça apelou e agora o órgão tem o poder de regulamentar a vida dos gatos segundo a Lei de Bem-Estar Animal, que se aplica a zoológicos e animais de circo. A justificativa é que o museu se vale da imagem dos gatos em anúncios, para o turismo e em produtos.
Em outras palavras, a exposição dos gatos precisa de uma licença federal.
“O mais ridículo da coisa toda é que se realmente estivéssemos falando da saúde e do bem-estar destes gatos, isso nunca teria sido um problema”, disse Michael Marowski, sobrinho-neto da mulher que comprou a casa de Hemingway em 1961, ano em que o escritor faleceu, e a abriu como museu em 1964.
“Estes gatos são tão bem cuidados, mas só porque há um livro que diz que a exibição de animais precisa ser desta forma, estamos tendo que passar por isso”, completa. Marowski planeja apelar para a Suprema Corte.
Na opinião dele, o caso dos gatos de Hemingaway nada mais é que uma regulamentação federal passando por cima de leis estaduais e municipais referentes a animais domésticos. Os gatos, a maioria batizada com nomes de pessoas famosas, recebem visita veterinária e quase todos estão castrados.
Os animais são bem alimentados, estão livres para circular pelos móveis de Hemingway (até porque a casa é deles também) e até possuem um cemitério próprio próximo ao jardim, onde inclusive ‘Frank Sinatra’ está enterrado, ao lado de ‘Zsa Zsa Gabor’.
Os animais são bem alimentados, estão livres para circular pelos móveis de Hemingway (até porque a casa é deles também) e até possuem um cemitério próprio próximo ao jardim, onde inclusive ‘Frank Sinatra’ está enterrado, ao lado de ‘Zsa Zsa Gabor’.
Em 2005, o Departamento de Agricultura enviou um funcionário da PETA para investigar a situação e ele concluiu que “são gatos gordos, felizes e relaxados”.
A apelação da Corte concorda que “o museu sempre providenciou comida, atendimento veterinário para os gatos de Hemingway” e, na decisão, os três juízes injetaram uma dose de compreensão.
“Nós apreciamos a decisão um tanto original do museu e compartilhamos com a sua frustração. No entanto, não é papel do tribunal avaliar a sabedoria das regulamentações federais.”
Até o momento, o museu não foi afetado pela decisão porque chegou a um acordo com o Departamento de Agricultura, em 2008. A licença de exposição foi concedida e em troca o museu deveria aumentar a altura da cerca, adicionar tigelas especiais e atualizar o abrigo de gatos.
Mas Marowski afirma que isso não fez a batalha terminar. Para ele, o museu estaria sujeito a qualquer mudança no regulamento, alterações estas que poderiam derrubar o museu e os gatos.
“Estamos nas mãos do Departamento”, disse sua advogada, Cara Higgins.
David Sacks, porta-voz do Departamento de Agricultura, disse que o órgão está simplesmente seguindo a lei, que abrange também mascotes, por exemplo, e destina-se a garantir os cuidados diários adequados. Crueldade não é o limite, segundo ele. O departamento deve acompanhar também coisas como se a pintura descascando da parede é tóxica aos animais ou se há uma infestação de roedores.
“Se o animal está coberto pela lei, não fazemos distinção. Temos que regulamentar”, afirma Sacks.
A batalha começou em 2003 quando um voluntário do museu e amante dos gatos preencheu uma reclamação ao Departamento de Agricultura depois que um gato agressivo começou a perambular pela propriedade. O órgão federal decidiu que o museu precisava seguir a regulamentação para exibição de animais. O museu, por sua vez, argumenta que os gatos nasceram e cresceram na casa e que raramente andam para além do quintal. Além disso, a maior atração é o legado de Hemingway, não os gatos.
Mas o Departamento de Agricultura discorda. Um especialista em comportamento animal foi enviado para catalogar os gatos e analisar a situação. Entre 2005 e 2006, agentes foram enviados secretamente para observar os gatos e fotografar os movimentos. Uma das fotos mostra um gato cinza deitado na calçada, com a legenda: “Imagem de gato de seis dedos feita no restaurante/ bar ao final da Whalton Lane and Duval. Pode e não pode ser um gato da casa/ museu de Heimingway.”
“Isso foi insano, ali só tem louco! É assim que os dólares de imposto são gastos. Os agentes vêm passar férias aqui e vão em bares tirar fotos de gatos”, falou a advogada de Marowski.
Neste ponto, o Departamento recomendou uma vigília noturna e, mais tarde, ameaçou confiscá-los, mas tanto barulho não causou qualquer consternação na vida dos gatos de Hemingway (e há uma questão de saber se Hemingway sequer possuía um gato de seis dedos, mas isso é outra história).
Recentemente, em uma tarde, o peludo ‘Lionel Barrymore’ passeava pelas pedras, ‘Hairy Truman’ estendia-se preguiçosamente na mesa do pátio, e ‘Francis’, batizado assim devido ao furacão de 2004 que atingiu Key West, aninha-se confortavelmente no travesseiro de Hemingway.
Tomara que essa disputa judicial termine com final feliz para os gatinhos.
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